JBS distribuiu R$ 1,1 bi em propina a 27 partidos, diz revista
Sábado, 29 de Julho de 2017 - 08:39 | Redação
A revista “Época” desta semana traz, com exclusividade, informações sobre o esquema de corrupção realizado entre os empresários da JBS e os políticos de todo o país em quase dez anos. A reportagem teve contato com os documentos dos delatores e, segundo revela, existem “planilhões de propina – da eleição municipal de 2006 à eleição presidencial de 2014; comprovantes bancários, notas fiscais frias e contratos fraudulentos”. Além disso, existem depósitos em contas secretas no exterior.
Segundo a revista, os pagamentos ilícitos feitos pela JBS a políticos atingem uma escala que nem mesmo a Odebrecht conseguiu. Entre os anos de 2006 a 2017, a contabilidade da propina da JBS – e outras empresas dos irmãos Joesley e Wesley Batista – a políticos chega a nada menos que R$ 1,1 bilhão. Desse volume, R$ 301 milhões ocorreram em dinheiro vivo e R$ 395 milhões por meio de empresas indicadas por políticos.
Na distante campanha de 2010, foram apontados pagamentos fraudulentos a empresas indicadas por Temer durante a campanha presidencial; na mesma campanha, a JBS teria repassado dinheiro ilicitamente para empresas apontadas pelo tucano José Serra. Já nas eleições de 2014, os irmãos Batista colocaram quase R$ 600 milhões em campanha, sendo que R$ 433 milhões foram doações oficiais, R$ 145 milhões entre pagamentos a empresas indicadas por políticos e dinheiro vivo – isso com a Operação Lava Jato já sendo realizada.
Ainda segundo registros internos da empresa, houve um salto de 4.900% nos gastos com corrupção, ou seja, de R$ 12,5 milhões em 2006, ano da reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, para R$ 617 milhões em 2014, na reeleição de Dilma Rousseff. Em 2006, a JBS pagou propina para políticos de 11 partidos em seis estados; mas, em 2014, integrantes de 27 partidos de todos os estados do País foram beneficiados pelos esquemas corruptos.
Beneficiários - Algumas manobras ilícitas foram apontadas pela reportagem. Entre elas estão os extratos de duas contas mantidas por Joesley nos Estados Unidos com saldo de propina no BNDES, por combinação com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega . Essas contas são apontadas como sendo aquelas cujo saldo, de R$ 150 milhões, foi utilizado para financiar a campanha de Dilma em 2014.
Contudo, o grande destaque são casos inéditos de propinas, até então desconhecidas: como a propina de US$ 1 milhão paga a Antonio Palocci , em 2010, através de uma conta nos EUA. Além disso, foram descobertos pagamentos em dinheiro realizados ao presidente do Senado, Eunício Oliveira .
Ministros do governo Temer também foram apontados na reportagem, como Bruno Araújo, Gilberto Kassab, Helder Barbalho e Marcos Pereira. Kassab, por exemplo, foi beneficiado com propinas de R$ 18 milhões até o ano passado.
Esquema de pagamentos - Ao contrário da Odebrecht, os irmãos Batista repassavam as propinas por meio de dois funcionários, Demilton e Florisvaldo. O acerto com os políticos era, geralmente, feito por Joesley e, raramente, Wesley ou Ricardo Saud (lobista e colaborador da Procuradoria) faziam esse trabalho.
O esquema na região Nordeste era intermediado pelo publicitário André Gustavo, preso nesta semana na 42ª fase da Operação Lava Jato, acusado de ajudar o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine a chantagear a Odebrecht. Ele foi apontado pela revista como sendo uma “espécie de Marcos Valério do Pernambuco”, encarregado de entregar o dinheiro da JBS aos políticos.
“Foi André quem, segundo a JBS, organizou a entrega de propina em dinheiro vivo ao presidente do Senado, Eunício Oliveira, ao senador Jader Barbalho e a seu filho, o ministro Helder Barbalho, todos do PMDB”, diz a reportagem.