Empresas de ônibus pagaram R$ 122 milhões de propina a Cabral
Segunda-feira, 03 de Julho de 2017 - 07:31 | Redação
A investigação do Ministério Público Federal (MPF) que levou à Operação Ponto Final, que investiga propina de empresários de ônibus a políticos e fiscalizadores dos transportes do Rio, aponta que o ex-governador Sérgio Cabral recebeu R$ 122,85 milhões por meio do operador e braço-direito Carlos Miranda – ambos já estão presos. No total, foram movimentados cerca de R$ 260 milhões em propina em troca de benefícios às empresas de ônibus, de acordo com a investigação.
Nesta segunda-feira (3), duas prisões foram confirmadas: a de Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, e de Rogério Onofre, ex-presidente do Detro. Na noite de domingo (2), outro mandado de prisão foi antecipado, contra o empresário Jacob Barata Filho.
Um dos maiores empresários do ramo de ônibus do Rio, Barata foi preso no Aeroporto Internacional Tom Jobim, ao tentar embarcar para Lisboa, Portugal. O empresário já estava na área de embarque quando foi detido. A polícia suspeita que ele ficou sabendo da operação e tentava fugir. A defesa nega e diz que Jacob Barata Filho estava com passagem de volta de Portugal marcada para 12 de julho.
Mandados de prisão preventiva confirmados:
- Jacob Barata Filho, empresário do setor de transportes, suspeito de ter recebido R$ 23 milhões em propina (preso)
- Rogério Onofre, ex-presidente do Detro, suspeito de receber R$ 44 milhões (preso)
- Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, suspeito de receber R$ 1,57 milhões (preso)
- José Carlos Reis Lavoura, conselheiro da Fetranspor, suspeito de receber R$ 40 milhões (está em Portugal e a PF acionará a Interpol)
- Marcelo Traça Gonçalves, presidente do sindicato de ônibus e apontado como realizador dos pagamentos (sem prisão confirmada)
- João Augusto Morais Monteiro (sem prisão confirmada)
- Cláudio Sá Garcia de Freitas (sem prisão confirmada)
- Márcio Marques Pereira Miranda (sem prisão confirmada)
- David Augusto da Câmara Sampaio (sem prisão confirmada)
Mandados de prisão temporária confirmados:
- Carlos Roberto Alves (sem prisão confirmada)
- Enéas da Silva Bueno (sem prisão confirmada)
- Octacílio de Almeida Monteiro (sem prisão confirmada)
Ainda segundo a investigação, Rogério Onofre teria recebido mais de R$ 44 milhões. Lelis Marcos Teixeira, presidente da Fetranspor, recebeu pouco mais de R$ 1,57 milhão. Lavouras ganhou mais de R$ 40 milhões. Jacob Barata Filho, preso na noite deste domingo (2) tentando embarcar para Lisboa, recebeu R$ 23 milhões. Jacob Barata Filho era um dos principais nomes ligados a empresas de ônibus do Rio.
Operação Ponto final
A Operação Ponto Final busca cumprir nova mandados de prisão preventiva e três de prisão temporária, além de 30 mandados de busca e apreensão expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. Cerca de 80 policiais federais participam da ação.
A ação foi baseada nas delações premiadas do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado Jonas Lopes e do doleiro e operador Álvaro Novis.
Cerca de 80 agentes fizeram buscas nas cidades do Rio, São Gonçalo e Paraíba do Sul, no estado do Rio de Janeiro, e nos estados do Paraná e Santa Catarina.
Esquema por 26 anos
Segundo o MPF, a investigação do núcleo de transporte da organização criminosa comandada por Sérgio Cabral começou quando Novis, cuja atuação foi revelada pela deflagração da Operação Eficiência, firmou acordo de colaboração premiada com o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), ele ressaltou que sabia que os pagamentos eram realizados para garantir benefícios relacionados às linhas de ônibus e tarifas.
Na delação, Novis afirmou que foi contratado pelo presidente do Conselho de Administração da Fetranspor, José Carlos Lavouras, para “recolher regularmente dinheiro de algumas empresas de ônibus integrantes dessa Federação, administrar a sua guarda e distribuir a diversos políticos”. As ordens para esses pagamentos, segundo Novis, eram dadas única e exclusivamente por Lavoura, desde 1990 até 2016.
Segundo as investigações, o dinheiro era recolhido nas garagens das empresas, e contabilizado através de planilhas. Nelas, estavam o nome de diversas pessoas do setor de transportes, como o próprio Lavoura e Rogério Onofre, ex-presidente do Detro, além de operadores financeiros de Cabral, como Carlos Miranda.
De acordo com o documento, as investigações indicam o uso da empresa de transporte de valores Trans Expert como ferramenta para lavagem e ocultação do dinheiro da propina.
Na planilha, Carlos Miranda aparecia como CM; Rogério Onofre tinha o apelido de “Lagoa” ou “Mamaluco”. Hudson Braga, preso na operação Calicute, também recebeu recursos da Fetranspor, de acordo com a delação de Novis. Duas contas eram utilizadas para repassar o dinheiro.
Fonte: G1