Aos 96 anos, morre Delfim Netto, ministro da Fazenda na ditadura militar
Em 1968, ele foi um dos signatários do Ato Institucional nº 5, que endureceu o regime no Brasil
Segunda-feira, 12 de Agosto de 2024 - 08:19 | Redação
Morreu, na madrugada desta segunda-feira (12), o economista Antônio Delfim Netto, aos 96 anos, que exerceu o cargo de ministro durante o governo militar. Ele se encontrava internado desde a segunda da semana passada (5) no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Delfim faleceu em decorrência de complicações no quadro de saúde. O ex-ministro deixa uma filha e um neto. Segundo a assessoria do ex-ministro, não haverá velório aberto e a cerimônia de sepultamento será restrita aos familiares.
Netto ocupou o cargo de ministro da Fazenda entre os anos de 1967 e 1974. Também foi ministro do Planejamento entre 1979 e 1985, ministro da Agricultura em 1979 e embaixador do Brasil na França de 1975 até 1977.
Um dos principais responsáveis pelo chamado “milagre econômico”, Delfim foi um dos mais longevos ministros da Fazenda. Em 1968, foi um dos signatários do Ato Institucional nº 5 (AI), decreto que permitiu a cassação de políticos eleitos nas esferas federal, estadual e municipal, autorizou o presidente da República a intervir nos governos de estados e municípios e permitiu a suspensão de direitos e garantias constitucionais individuais como habeas corpus, entre outras medidas.
Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), depois da ditadura, foi deputado federal por 20 anos, entre 1987 e 2007.
Entre 1968 e 1973, período conhecido como o “milagre econômico brasileiro”, a economia cresceu, em média, 10,2% ao ano, com pico de 14% em 1973. Incentivos ao agronegócio e à indústria, além da construção de grandes obras, marcaram esse período.
Como consequência, vieram a disparada da inflação e do endividamento público externo. Ao final da ditadura militar, em 1985, a inflação anual passava de 220%. De 1964 a 1985, a dívida externa saltou de US$ 3,2 bilhões para US$ 105 bilhões.
“É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”, defendia o então ministro da Fazenda. A partilha do bolo, no entanto, não ocorreu.
Em 2013, durante sessão da Comissão da Verdade, o economista disse que apoiaria novamente o AI-5 “se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco”. “Eu não só assinei o Ato Institucional número 5 como assinei a Constituição de 1988, (mas) nunca apoiei a repressão”, alegou.
Com informações de Congresso em Foco.