Fazendeiro de Dourados vai indenizar vítimas de trabalho escravo
Sexta-feira, 17 de Novembro de 2023 - 09:52 | Redação
Um fazendeiro flagrado quando mantinha sete pessoas realizando trabalho escravo em sua propriedade, em Dourados, vai ter de indenizar duas delas, ambas menores de idade, no valor de R$ 45 mil a título de dano moral individual. A sanção decorre de acordo firmado entre o produtor rural e o Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul (MPT-MS).
Os dois adolescentes são indígenas, com idades de 11 e 17 anos, mantidos em condições semelhantes à escravidão, mesma situação em que se encontravam outras 5 pessoas também resgatadas na inspeção fiscal na propriedade.
O primeiro Termo de Ajuste de Conduta, celebrado no final do mês passado entre o fazendeiro e o procurador do Trabalho Odracir Juares Hecht, estabelece o pagamento de R$ 45 mil, até o dia 24 de novembro, a título de dano moral individual às vítimas de trabalho escravo.
Além disso, o fazendeiro vai ter que comrprovar o registro em carteira dos contratos de trabalho de todos os empregados, com exceção dos menores, e quitação das verbas rescisórias dos trabalhadores afastados, incluindo saldo de salário, 13º salário e férias proporcionais, 1/3 de férias e aviso prévio correspondente.
A soma das verbas rescisórias superou R$ 19 mil – já descontados os valores devidos pelos empregados à Previdência Social – e teve como fundamento a data de admissão dos trabalhadores, em 2 de outubro, e a data de afastamento no dia 24 de outubro.
O descumprimento das obrigações constantes das cláusulas do acordo resultará na aplicação de multa no valor de R$ 10 mil, por trabalhador prejudicado e por obrigação descumprida, cumulativamente.
A quantia, se arrecadada, será reversível ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), a outro fundo ou a destinação social definida em sede de execução.
Compromissos assumidos
Já o segundo Termo de Ajuste de Conduta, também firmado no dia 26 de outubro, prevê a observância de 22 obrigações, dentre as quais se destaca abster-se de manter em serviço trabalhador com idade inferior a 16 anos, nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho.
Outro compromisso é o de abster-se de manter trabalhador com idade inferior a 18 anos em atividade nos locais e serviços insalubres ou perigosos e disponibilizar, aos trabalhadores, áreas de vivência compostas de instalações sanitárias, locais para refeição, alojamentos e espaço adequado para preparo de alimentos e lavanderias.
O TAC estabelece ainda que o produtor rural deve proporcionar capacitação aos trabalhadores para manuseio e operação segura de máquinas, equipamentos ou implementos, de forma compatível com suas funções e atividades, além de disponibilizar local para banho com água, sabão, toalhas e armários individuais para a guarda da roupa de uso pessoal.
O acordo ainda determina que seja promovida qualificação sobre prevenção de acidentes com agrotóxicos, aditivos, adjuvantes ou produtos afins a todos os trabalhadores expostos diretamente, assim como mantida edificação destinada ao armazenamento de agrotóxicos, aditivos, adjuvantes ou produtos afins, de acordo com o estabelecido em norma regulamentadora.
A inobservância de qualquer das cláusulas implicará na aplicação de multa de R$ 10 mil, cumulativamente, multiplicada por trabalhador prejudicado e por oportunidade em que se verificar o seu descumprimento.
Condições degradantes
No momento do flagrante, representantes da fiscalização do Trabalho e da Polícia Militar Ambiental constataram que os indígenas estavam submetidos a análogas a trabalho escravo na propriedade rural, que se dedica ao cultivo de soja.
Um deles, com apenas 11 anos, exercia a função de cozinheiro, e outro, com 17 anos, era catador de milho.
Todos utilizavam barracões de lona como alojamento, onde improvisaram colchões velhos e sujos, empilhados sobre toras de madeiras e galões de agrotóxicos.
Eles também faziam as necessidades fisiológicas no mato. No local, não havia energia elétrica nem água potável.